quinta-feira, 27 de junho de 2013

B.O. da Zona das Puta

Com um murro na cama ele grita:
Acorda, muié!
Ela arregala os óio e sai pras lida da vida.
Volta quase junto com o sol,
Tanto nojo nela,
Nojo dela.
Daquele corpo machucado,
Daqueles macho que ela tem que apressar.
Tudo igual agora, os preto, os gordo,
Os grande e os alemão.

Ela dorme, e agora sou eu que grito:
Acorda, muié!
Vem pras lida da vida,
Mas de vida com gosto,
Sem soco nem tapa.
Vem que tem vida sem asco,
que de sofrida tu já dobrô tua sina.

Recorda, menina, risada com dente,
Prova prá São João escrever
Letra na bacia, casca de laranja
Broa macia e o olho espichado,
guloso, corpo ardendo e se dando
a barriga, a fome, a vergonha.

E o que quase foi ouro
Agora era barro. Era lodo,
Era a pontada parindo e depois
A pontada na alma, piedade negadaa,
China, puta, entre outras
As que vieram antes,
E as outras que chegavam.

Mas era tanta dor, tanto nojo,
Tanta raiva, tanto medo,
Que doía, doía, doía e doía
Até que um  dia ela entendeu
Que não tinha mais dor prá furar sua alma.
E foi ela que furou, não a alma - o corpo -
Para assistir o sangue escorrer,
As otra correu e ela não.
Só pegou o guri pela mão
E saiu devagar prá, quem sabe, viver.





sábado, 22 de junho de 2013

O Peso e o Medo

O peso e o medo,
Ideias forjadas em aço e algodão.
O medo do peso,
Do algodão macio,
Lucidez, me brinde
Ou não,
Ou me tome a insensatez.
Durmo,
Mas acordo com a amargura
Cruel de lembranças
Que não me permitirei,
Afagos de um amanhã,
Que nunca virá,
Por carregar com ele
O peso do aço forjado,
Lâmina fina a me perfurar
Inclusive a ilusão.


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Parecenças

Sem aviso, as letrinhas miúdas do teclado
Encenam um pisca-pisca chamativo,
E meus dedos são seduzidos sem reagir.

São as palavras tomando prumo,
Lançando na água hoje turva
Das dores comuns o anzol da memória.
Mesmas dores, mesmos medos,
Horrores mascarados à espreita.
É esta a trilha em comum,

Acendi, para ti, um incenso,
Vendo a rala fumaça dançar
Brincando de desenhar coisas.
Efêmeras.
Como a fumaça e nossa dor,
Ou como quero crer que seja nossa dor.

Aparentam, por vezes, diferenças
Mínimas,
Dissolvidas ao menor rastro de lucidez.
Seremos, porventura, fortes?
Queiramos que sim. Para,
Enfim vencer tempo,
Desânimo e loucura.

Por hora, sigamos o rumo
Da lucidez, por mais amargo,
E turbulento se mostre.




Para Jean

Sem mais ou razão,
Entram em minha página os dois olhinhos escuros,
Voz vezes desfibralada de seu timbre,
Riso fácil.
Escondida a alma no tom certo,
No toque fácil e e terno,
Andorinhas astutas copiando
Acordes de seu canto.

E quando uma saudade-lonjura
acontece,
Doendo em pedaço desconhecido d'alma,
Calmamos.
Sabemos os dois,
Quase ao mesmo tempo,
O rubro entardecer
Guardado em caixinha forrada em veludo mimoso,
Esperando ansioso o tope desfeito
Encanto inesperado e imprevisível.