sábado, 29 de setembro de 2012

Engano

Diziam-me, anos atrás, muitos anos atrás,
Quando a impaciência me assolava,
E  incerteza me consumia,
Que com o tempo e a idade
(ah, esta coisa que até hoje não consigo
 nem entender nem reconhecer)
Que a maturidade traria a calma,
A tranquilidade, a paciência.
Imaginava-me, horrorizada,
Na contemplação dos ponteiros
De algum relógio imaginário,
Assistindo o bailar de ponteiros,
Aguardando o cair da tarde,
O horário da novela das sete,
O sono das oito,
O despertar com o nascer do sol.
Pois o tempo passou,
Muitos anos, todos aqueles aniversários
Que jamais deixei de festejar.
Continuo impaciente, carregando incertezas,
O sono não chega antes da madrugada,
Acordar com o nascer do sol continua
a ser um suplício.
Uso relógio digital para não me irritar
com a lentidão dos ponteiros,
E quanto à formigas, bem...
Elas continuam caminhando em fila,
Mas só lembro delas quando invadem o açucareiro.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Rápida Biografia Da Madrugada

Minhas tarefas nunca foram fáceis.
Nada de bordados simétricos,
Namorados convenientes e adequados,
Nada  de destaques e láureas.
Minhas tarefas sempre foram
Maiores e bem mais ásperas.
Quebra de paradigmas,
Sutilezas descascadas,
Pontos irregulares, cores descombinadas
Para os olhares arcaicos
De mentes retilíneas e incapazes
De pisar por milímetros
Além da faixa convencionada.
Minha maior virtude sempre foi e sempre será 
O desafiar e afrontar a normalidade.
Minha inquieta curiosidade 
Minha insatisfação constituem 
A massa compacta e colorida
Que alimenta, agiganta dá vida
A mim, minha independência, capacidade,
Mas principalmente minhas lucidez e felicidade.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Farrapos

Amanhã, por aqui será feriado.
Um feriado que bate forte no orgulho gaúcho,
Lembranças montadas pela história contada
Como sempre, pelos vencedores.
Amanhã, sentiremos pulsar mais forte
O coração gaúcho.
Amanhã, recontaremos os feitos passados,
E recobriremos de glórias
As chacinas e combates
Que dizimaram índios, negros e peões.
Amanhã, como sempre, esqueceremos
De louvar os negros acossados,
Que lutaram pela sonhada liberdade,
Mas que não couberam no acordo final.
Sou gaúcha, aqui nasci,
Sangue português, índio e libanês.
Gaúcha brasileira.
Das que ama o Rio Grande do Sul,
Sua bandeira, escudo, hino e tradições.
Amanhã, além de lembrar de nossa Revolução,
De alguns poucos idealistas que sonharam com
A República Juliana, sem escravos e
Independente de Portugal,
Gostaria que fossem lembrados também
Índios, negros e peões que acreditaram
Neste sonho e por ele morreram.


domingo, 16 de setembro de 2012

Além do clima

As noites já são mais curtas,
o sol se estende e alonga,
dia após dia suas rendas
de luz.
A inconformada lua,
não bastasse a carga imposta,
nestas épocas de saliência do calor,
vê-se espremida
entre escuridão e nuvens,
gemidos de exilados
e densas dores desconhecidas.
Invernos e verões se alternam,
enquanto nós, indiferentes,
sequer notamos as mudanças
escancaradas
que vão muito além da temperatura.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Hoje e amanhã

Hoje tenho alegria, tive abraços e risos.
Hoje alimentei a satisfação.
Nadei em praia límpida, água transparente,
clima quente, sol queimando,
céu sem nuvens, areia fina e limpa.
bem perto, quiosques abarrotados
com todas as coisas que imaginei
poder imaginar querer.
Isto foi hoje.
Amanhã será outro dia.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Para o Dia que Nasce...

Máscaras

Procurei minha máscara por todas as gavetas,
por prateleiras, armários, carteiras.
Por fim, olhei, espelho por espelho,
Mas tampouco ela estava em meu rosto.

Então, virtudes e vícios declarados,
Olhei-me novamente, atentamente,
Mirei com extremada atenção
Cada centímetro, cada milímetro de minha alma,
E, sinceramente, dei-me conta,
De que sou melhor de cara lavada.


sábado, 8 de setembro de 2012

Tramas de Lã

Ponto a ponto, nó a nó,
Fios criam forma e crescem
Em volume e tamanho
E densidade e largura,
E altura e cumprimento,
E as cores se misturam,
E cada ponto a mais mistura outra cor.
E a beleza assincromática
Das misturas inusitadas e despudoradas
Em nada formais nem recatadas
A imperiosa necessidade de seguir
Tramando fios de lãs
Nas misturas nada aleatórias
Que me faz varar noites
E fraudar dias e destroncar pulsos
Na construção destes panos únicos
Que, ao menos a mim,
Encantam como se fossem
Tramados únicos e intransferíveis
De todas as minhas lembranças.

sábado, 1 de setembro de 2012

No Lado Escuro da Lua

Para ela olhamos, e alimentamos a alma
De beleza e temor, de incerteza e amor.
E de longe, tão longe, tão bela parece.
E tão séria se mostra ou farta de nós
Quando teima em sumir e levar toda luz.
Quando arranca violenta do leito as marés
Quando brota da terra as sementes perdidas
Quando se despudora, cheia, derramando luz
por cidades, campos, mares, matas, tudo.
Daqui, só lhe vemos os caprichos e a formosura.
Sem pensar na fatalidade de, 

 Quem sabe um dia,
Fazer-lhe parte da paisagem selvagem.