terça-feira, 31 de julho de 2012

Motivos da Chuva

De pequena aprendi que chuva
Quando mansa, miúda e fraca,
Assim vem para ficar.
Sequer começa com vento,
Ignora a derruba de folhas,
Não bate janelas soltas,
Faz-se de orvalho inocente.
Mas tal chuvinha indolente,
Depois de no céu brotada,
Mostra rápida sua face
De Calipso enfurecida,
E assim, imposto seu porte,
Chama à terra o vento Norte,
Dia e noite são-lhe seus.
Tempestade, nuvem, água,
Tudo arrasta em sua mágoa,
De saciar o rude chão
Sem nele poder viver.






sexta-feira, 27 de julho de 2012

Para Simone


Quero o amor puro,
Brotado da alma,
Quero o vento sem rumo, 
Quero o afeto sem prumo
Nem pudores nem correntes.
Quero chuva miúda e mansa,
Saliva, suor, beijo e paz.
Quero o mundo inteiro
Que por direito me cabe
Mas que dele ainda não me apossei

Rigores

Mas como o quê, então,
Pois não é que a alma,
Matéria disforme e impalpável,
Sem pelos nem carnes,
Sofre os rigores de calor e frio?
Calores que nem o diabo,
Corpo tomado que fosse,
Queimaria.
Por vezes.
E por outras vezes,
Um frio em farpas e pontas,
Seco, constante e brumoso.
Calor e frio derramados
Em almas não prudentes.


Itapuã, RS

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Para o Dia que Nasce...

Hortências

Pensando ao-Deus-dará,
Sem bem porquê,
Lembrei de uma cerca de hortências.
Hortências azuis, algumas alilasadas,
Hortências anil, umas, outras bem clarinhas.
Hortências com suas largas folhas,
Sem perfume, excedendo em beleza.
Hortências são a luxúria dos olhos.
São a soberba de minhas lembranças.



segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sou Árabe!

Em minh'alma e corpo passeiam lembranças
Das areias que não pisei,
Do vento que não me afogou.
Passeiam também medos e angústias
Das mortes que nunca vivi.
Das vidas que em corpo nunca vivi.
Passeia por mim o sangue de minha origem.
Passeiam por mim a sabedoria ancestral,
Beleza, arte, persistência e fé.
Passeia por mim o orgulho de saber-me árabe.
Passeia por mim a indignação e a revolta
De saber meu sangue tão derramado,
Passeia a revolta por tanta opressão.
Mas em mim vive, imenso,
O orgulho de um povo que jamais desiste
Do sonho, da liberdade e de seu próprio sangue.



quinta-feira, 19 de julho de 2012

Martha

‎"Martha menina, branca pele em sorrir.
Martha solar, breve nesga em cetim . 
Martha no mundo, 
Martha-pranto por vezes.
Martha grata surpresa.Martha-amiga, 
Tão pouco conhecida,
Tantas descobertas,
Tão insone procura,
Infindável desconhecimento meu
Acerca de Martha".

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Para o Dia que Nasce...

Providência

Quando as engrenagens do destino
Carecem polimento e óleo,
Ausentes as boas circunstâncias,
Quando as coincidências se furtam,
Sem culpas nem pesares
providencio a chegada de recursos:
Os desapercebidos e felizes
Acasos premeditados. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Para o Dia que Nasce...

Para Cris - Parte dois

...entender a poesia alheia é construir, na leitura, o próprio poema...
Mas para beber na fonte da fantasia alheia
E sorvê-la com intensidade e conhecimento,
Faz-se indispensável correr nas próprias veias
O sangue furta-cor da poesia...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Brocado-Esmeralda

Madrugada e frio,
Beberico vinho.
Distância em pequeno mundo,
Deliro em vontades.
No desejo de,
Em sendo possível dormir,
Visite-me o fantasma
Brocado-Esmeralda
Que me alimenta a alma
Durante pesadas, monótonas,
As claras horas do dia.


Para Dada

Bebê-a-bá, a, a, amor.
Pitanga roliça e madura,
Tchi-tchuí de sabiá peito-amarelo
Em manhã de sol.
Flor de campo, azul,
Amarela, pequenina e cheia,
Manhã de feriado e tarde de domingo.
Verão virado em tempestade breve,
Vestido novo, livro raro,
Miado de gato, bombom
Afeição de gol em fim de partida.
Brilho, alento, preciosidade.
Tu.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Artemísia-café

Bolita em rara cor,
Pitanga recém-nascida.
Turmalina
Rajada em finos marrons.
Água limpa,
Onda de mar raso,
Raros riscos de leito.
Folha de maçã,
Bala de hortelã,
Caroço de romã,
Pequenos gravetos.
Gole de absinto,
Farto absurdo.
Grama crescida,
Minúsculo trecho de chão.
Pena de ararinha verde,
Grilo de campo,
Mato pós-chuva,
Grãos de poeira.
Esmeralda polida e lida,
Rajado olho de tigre,
Pedra inquieta lenta:
Teu olho pupila e alma,
Perdição.



Compensação

Não te encontro por aí,
Meu olhar comprido não te vê.
Prendo fundo o Minuano que me ronda,
Rondo nele  qualquer sinal teu.
Conforto o peito olhando o rio,
amassando nos dedos pequeninas folhas,
Conforto a saudade com incensos de mato,
Compenso tua falta assistindo
A dança das chamas de velas feitas com mel.


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Lagoa, 17

Vem-vai-vem,
lembro as almas do sul da Lagoa,
ou elas de mim.
Visitam-me em sonhos
mesmo acordada.
Visito-lhes eu,
hoje em desejo,
bem logo em corpo.
De há já muito tempo,
sou-lhe toda e inteira cria.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Para Alê

Rastro de cheiro intuído e não sentido,
de suor, saliva e lágrimas.
Verde que esfumaça e escurece,
clareia e se apossa de brilho,
Pupila rebelde quando em única cor.
Tempero exótico,
Lã tecida em tear miúdo.
Inconformidade das procuras,
Claridade de lua peneirada em nuvens,
Glacê de sonho em esmeraldas,
Amor aquele que não consigo declarar.

Júlia Rosés e Eduardo Hoffmann- My Heart (Paramore Cover)

Para Luciana

Disse-me a até então desconhecida poeta,
Aquelas com rimas no sorriso dos olhos:
"A vida é muito dura,
  Alguns versos nos suavizam..."
Digo a ela:
" Nada nos pode roubar
  o encanto dos versos sonhados..."

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Segredos

As madrugadas
São plenas em valores,
descoberta de mistérios
e declarações.
Amigos, nas madrugadas,
desnudam-se.
Na madrugada,
nos despimos
dos pudores desnecessários.

Ode à Injustiça

Ao trabalhador injustiçado,
Estarrecido com os rumos
Da barbárie politicamente correta,
Choro sem lágrimas
Em solidariedade inútil.
Crueldade embalada em cuidados,
Maquiada de afeto caricato,
Avalanche sádica incontrolável.
Quem, criteriosamente em verdade,
É legítimo quando sentencia
A crueza do que jamais conheceu?
Aos carrascos de conveniência,
Dedico apenas a infelicidade
Própria dos ignorantes vaidosos,
Matéria que lhes  constitui a própria vida.





domingo, 1 de julho de 2012

Cris

Em madrugada,
encontro Cristina.
Encabulada,
poesia na veia,
peralta menina
adornada em versos e falas
tatuagem de sonho
em madrugada.