terça-feira, 29 de maio de 2012

Divergências

Arestas que não se ajustam
são aquelas
onde um um quer uma coisa
e outro um quer outra.
Divergência de quereres,
medidas não combinantes,
diversidade de motivos.
Sejam eles quais forem.

domingo, 27 de maio de 2012

A Janela

Abre o dia, abre-se a janela.
Não se pergunta a ela
Se quer acordar ou dormir.
Noite chega, sem consulta alguma,
esconde-se os restos da tarde,
moribunda luz sem alarde vai.
A janela fecha, sem consulta alguma,
Mãos quaisquer batem suas folhas,
mas não conseguem impedir
restos de luz invasivos
que teimam em iluminar paredes indecisas.
De sol, lua ou luzes outras,
frestas da janela deliciam-se em consentir
pequenas grandes contravenções à escuridão.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Manhãs

Manhãs são como bebês querendo nascer,
Rasgam o ventre da noite sem piedade.
Afrontam a lua, apagam estrelas.
Manhãs são inquietas, diretas,
Não ouvem palpites,
Debocham, cáusticas dos insones,
Aboletam-se,espaçosas no céu.
Arrogantes, derramam-se inteiras,
E defendem-se discursando
Que a Lua tampouco espera
Que o Sol recolha-se para reinar.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Apertando Nuvens

O vento gosta de tentar.
Pressionar e apartar nuvens
Até que elas afinem as cinturas.
Mas nuvens não tem pose,
Não contraem as barrigas,
Não modelam em espartilhos.
Nuvens não são muito mundanas.
Nuvens não sofrem de anorexia.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Luz

Por agora, é madrugada.
Uma luz, sabe-se lá de onde,
Infiltrada por frestas minúsculas
     derrama-se em magotes
     impertinentes,
     Queimando retinas.
No silêncio do vazio,
Podemos apenas escutar
Os barulhos da Luz. Derrubando muros pixados
E galhos e mais.
Caem frutos das árvores próximas.

Frutos apodrecem quando tocam o chão.

Servem de alimento à luz,
Que ainda tem fome.

Pobres poetas, estes dos muros da cidade!
Jamais imaginaram que,
Ao grafar poemas em paredes brancas,
Despertariam,insone,
O branco da luz.
Que, até hoje,
     só matava a fome, com poemas rimados,
     daqueles declamados ao luar, por enamorados,
     inspirados pelas frutas podres,
     caídas dos galhos secos,
     que alimentam calçadas e campos e matas.
Luz e frutos permeiam mentes
e encantam olhos e corações doe poetas perdidos.

terça-feira, 8 de maio de 2012

A Roda

O destino não mente.
Ele desmente.
Os corações de pessoas é que mentem
    para o destino
    que já vem vindo
    sem saber de nada.
O destino não tem pressa.
O destino não entende
    e segue contente traçando planos
    e cruzando vidas, indiferente.

    

sábado, 5 de maio de 2012

Motivos

Penso que só existe um lugar onde o concreto e o irreal coexistem pacificamente e são interdependentes.
Penso também que um único martelo existe capaz de rasgar sem ferir nossas entranhas, aquelas que brotam na alma.
Penso que me mutilo e cicatrizo sem dores nas palavras rejuntadas nos versos que faço.
Destas todas, encontro a matéria de que são feitos os sonhos.
Poesia.
Preciso. Para sobreviver, escrevo.

Entrementes

Entrementes,
Estreou sorrridente
Um colibri vadio,
Consensualizado são.
     -Rasteira fala da palavra escrita.
      Mente eternizada e estreante.
Entrementes, o toque de mãos gigantes
Amortalhou o sonho.
     -Clara noção dos verbos perdidos,
       Repente transpassado
       Da agonia dos signos.
Entrementes,
A força solerte do desaguar bandido
Solapa, impune e vã,
A eternidade
Soletrada.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Down Breque!

É preciso derrubar o final da cerveja
E abrir outra.
E embalar o suave da vontade louca.

É preciso viver o inferno,
Sorrir ao diabo
E puxar-lhe a cauda.

E se desta vez,
O urubu suavemente amarelo
    da intolerância medíocre
    (leia-se senso da impunidade)
Pousar em nossos olhos,
É preciso derreter a manteiga do sonho
E fritá-la em bolos.;